A vida é bela (?)


Nesta semana, chegamos ao número de 57 pessoas mortas de fome, crianças e adultos sem acesso ao mínimo recurso alimentício no Gueto de Varsóvia palestino. Esses são apenas alguns dos mais de 60 mil assassinatos ocorridos desde outubro de 2023. As vítimas do Estado de Israel incluem, além dos “árabes” palestinos, “árabes” brasileiros e até israelenses.

O mundo tenta proteger-se do estresse de pensar sobre isso aceitando as parcas informações passadas pela mídia majoritária, incluindo os canais brasileiros que, indo contra o código de ética dos jornalistas, permanecem contra as definições da ONU que, toda semana, emite notas de repúdio às ações sionistas pelo mundo.

Sim, pelo mundo. São vários os países atacados militar e diretamente pelas forças coloniais sionistas. Iêmen, Síria, Líbano, Jordânia, Egito e Palestina são alguns. Mas há também ataques a grupos de Direitos Humanos em águas internacionais, como o ocorrido no fim de semana, próximo a Malta, quando um navio com mantimentos humanitários foi bombardeado por drones.

Eu mesmo, que acompanho como posso os acontecimentos e construo textos como esse, também me engano. Inspiro-me no judeu italiano Guido, do filme “A Vida é Bela” , que, mesmo num campo de concentração, usa de imaginação para fazer o filho Giosué acreditar que estão participando de uma grande brincadeira, com o intuito de protegê-lo do terror e da violência.

Acredito, na melhor das hipóteses, que o mundo está assim também. Fingindo que nada está acontecendo. Seguindo a vida como se uma marcha de terror não estivesse em curso neste momento. Crescendo e avançando sobre os vizinhos, como fez a Alemanha nazista em 1939.

Só isso, o fingir cegueira para se poupar, explicaria uma artista juntar mais de dois milhões de pessoas, como fez Lady Gaga no Rio de Janeiro, e não fazer referência ao horror que acontece na Palestina. Só isso explicaria a apatia mundial frente ao terror fascista que se anuncia.

Aliás, até esse ato de autoproteção fica cada vez mais difícil de se manter. Fora os gritos, os protestos, as manifestações, as imagens, teimosamente publicadas nas redes sociais, e os relatórios dos mais sérios e importantes órgãos de Direitos Humanos do planeta, ainda há os israelenses. Eles próprios anunciam com todas as letras o que pretendem e o que estão fazendo.

Em uma conferência on-line pró-colonos, nesta semana, o ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, falou abertamente em “conquistar” Gaza: “Finalmente vamos conquistar Gaza. Não temos mais medo da palavra ‘ocupação’”. É um extermínio. E nós estamos assistindo. Apenas assistindo.

*Texto originalmente publicado no jornal A União, em 7 de maio de 2025.

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