Um papa para os palestinos


O mundo está em transformação. Vivemos uma mudança nos polos. Ou melhor, uma multiplicação de polos econômicos e culturais. A hegemonia estadunidense, que sucedeu os séculos de domínio europeu, agora está sendo substituída por uma divisão de forças com as potências russa e, principalmente, chinesa.
E como em todo momento de ruptura, a violência e os extremos se intensificam, trazendo à tona o que há de pior nessas sociedades. Foi assim que o fascismo surgiu na decadente Itália dos anos 1920 e 1930 e que o nazismo nasceu na empobrecida Alemanha da mesma época.

Hoje, o Governo Trump e o sionismo israelense são o braço brutal do moribumdo “american way of life”. A própria Europa vive, também, uma onda de reacionarismo, racismo e ascensão da extrema direita (como nos anos 1920). Os poderosos estrebucham ao perderem seus poderes.

O papa Francisco, líder maior do Vaticano, foi uma voz importante nadando contra a corrente do conservadorismo crescente no Velho Continente, apesar de ser também o representante da Igreja Católica, conservadora por definição. Entre suas pautas, sempre esteve a busca pela paz e por uma solução pacífica para o conflito criado em 1948 por europeus no Oriente Médio.

Ele propôs e conseguiu articular algum diálogo entre líderes palestinos e israelenses, mas pouco pôde fazer para mudar, de fato, as condições dos milhões de refugiados e, mais recentemente, das dezenas de milhares de vítimas do holocausto moderno promovido pelos sionistas na Cisjordânia, mais contundentemente em Gaza.

Um novo conclave se aproxima e as possibilidades “papáveis” já começam a se apresentar. Há opções mais conservadoras, outras mais progressistas. Existem cardeais europeus, americanos, como o próprio Jorge Mario “Francisco”, e asiáticos. As estratégias políticas da Igreja são parte importante dos debates que devem ocorrer nas próximas semanas.

O Vaticano, como nação, e o papa, como líder religioso de milhões de fiéis espalhados pelo planeta, participarão do grande xadrez multipolar da geografia global dos próximos anos. Sendo assim, a escolha do novo sumo sacerdote da Igreja Católica interfere, ainda que de maneira não determinante, na luta de forças entre as grandes potências mundiais.

Eu, do alto do meu ateísmo, torço pelo cardeal italiano Pierbattista Pizzaballa, da ordem dos franciscanos. Além de ser uma pessoa da confiança do papa Francisco e comungar de vários de seus valores humanos, segundo o que eu pude apurar, tem em sua história na Igreja o fato de ser o Patriarca Latino de Jerusalém.

Sua vivência e experiência no Oriente Médio o gabarita para atuar com maior conhecimento de causa nas questões que envolvem o sionismo e o genocídio em Gaza. Ele poderá contar ao mundo o que cristãos e muçulmanos vivenciam sob o domínio ilegal de Israel. É pertinente lembrar, neste momento histórico, que a Palestina é o berço do cristianismo.

* Texto originalmente publicado no jornal A União de 22 de abril de 2025.

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