Dentro da minha lógica enviesada e pendente ao progressismo não cabe ver tanto retrocesso e perdas de direitos serem deixados de lado por conta de mentiras tão óbvias na pauta de costumes. Mesmo reconhecendo que há uma máquina de produção dessas falsas realidades, o mínimo de criticidade no pensamento e o mais leve pensamento complexo já é suficiente para aniquilar com a grande maioria das teses e teorias da conspiração.
Mas isso não acontece e, pelo contrário, me mostra que até pessoas esclarecidas e com alto grau de instrução técnica "compram" e repassam o que se convencionou chamar de Fake News sem o menor cuidado ou pudor.
No entanto, apesar do meu espanto e da novidade que parece ter esse efeito manada na política brasileira (antes no EUA, com Trump, e no Reino Unido com o Brexit), o fenômeno não é novo e já foi tema de estudos. Um exemplo (e sugestão de leitura) que trago é livro Freud (1920-1923) psicologia das massas e análise do eu e outros textos (link para o livro).
Leia esse trecho e veja se faz sentido a ligação que fiz:
"Deixemos agora o indivíduo e nos voltemos para a descrição da alma da massa, tal como Le Bon a delineia. Nela não há traço algum que um psicanalista não consiga derivar e situar. O próprio Le Bon nos mostra o caminho, ao apontar a coincidência com a vida anímica dos povos primitivos e das crianças. A massa é impulsiva, volúvel e excitável. É guiada quase exclusivamente pelo inconsciente.
Os impulsos a que obedece podem ser, conforme as circunstâncias, nobres ou cruéis, heroicos ou covardes, mas, de todo modo, são tão imperiosos que nenhum interesse pessoal, nem mesmo o da autopreservação, se faz valer. Nada nela é premeditado.
Embora deseje as coisas apaixonadamente, nunca o faz por muito tempo, é incapaz de uma vontade persistente. Não tolera qualquer demora entre o seu desejo e a realização dele. Tem o sentimento da onipotência; a noção do impossível desaparece para o indivíduo na massa.
A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela. Pensa em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no indivíduo em estado de livre devaneio, e que não têm sua coincidência com a realidade medida por uma instância razoável. Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza.
Ela vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem."
E aí? Bate ou não bate?
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