Nos últimos anos, encampei uma luta que visava ampliar a voz, na micro medida do meu alcance, dos palestinos. Porque, além de massacrados, os povos da Cisjordânia, de Gaza e mesmo os que foram deslocados para outros países na grande catástrofe, o Nakba, em 1948, sofriam com um silenciamento quase inimaginável.
Me coloco em primeira pessoa nesse texto porque quero afastar qualquer eventual possibilidade de impessoalidade ou de imparcialidade. Venho cobrar (esse é o termo) do mundo o mínimo de justiça e honra para uma situação insustentável para qualquer um que se considere minimamente civilizado.
Se, em algum momento, a luta foi a de tornar visível toda a injustiça, a crueldade, a covardia, a ilegalidade e a sordidez do apartheid israelense, depois de outubro de 2023 não é mais. Todo o mundo já teve chance de ver o que acontece em Gaza e que se reproduz de alguma forma com os demais palestinos espalhados pelo planeta.
Mesmo quem fecha os olhos ou vira o rosto para não ver as imagens dantescas que somente um regime brutal e sanguinário como o sionista pode proporcionar, testemunhou cenas que matam de vergonha os judeus descendentes de sobreviventes do holocausto nazista, que enojam qualquer pessoa que acredite nos Direitos Humanos e que embrulham o estômago até dos médicos legistas mais experientes.
Médicos, enfermeiros e socorristas são torturados, desmembrados e assassinado pelas tropas israelenses. Jornalistas e trabalhadores da ONU são fuzilados no exercício de seu trabalho. Idosos, homens e mulheres, civis, são bombardeados enquanto buscam comida ou apenas abrigo.
As crianças estão sendo exterminadas como se fossem uma praga. Essas são tantas, que já não é possível definir o tamanho do dano futuro ao povo Palestino. São ataques propositais, sistemáticos, sádicos, não podemos sequer tratar como “dano colateral”. Nenhuma outra situação definiu tão bem a palavra genocídio.
Hoje não luto mais para ampliar as vozes. Todos já sabem de Ahed Tamimi, da menina Hind Rajab, fuzilada dentro do carro junto com socorristas, da pequena menina fugindo descalça carregando sua irmã nas costas. Ninguém vai esquecer o avô palestino beijando os olhos da neta assassinada em um bombardeio em Gaza. Ninguém vai esquecer que esse mesmo avô, pouco mais de um ano depois, também morreu bombardeado por drones israelense.
Agora eu luto para que a justiça seja atingida. Luto para que a alma de Khaled Nabhan e sua neta Reem possam descansar em paz e para que suas mortes não tenha sido em vão. Luto para que a memória desses e de tantos outros mártires fique tatuada na história do sionismo e como noda indelével no tecido da linha do tempo dos Direitos Humanos.
Artigo publicado originalmente no jornal A União de 18 de dezembro de 2024.
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