Está tudo errado nas nossas eleições

Nossa democracia tem diversos problemas, mas vou aproveitar a proximidade com o último pleito para iniciar um pensamento sobre o assunto. Fiquem tranquilos que não vou falar de candidato A ou B, nem de esquerda e direita. Não nesse texto. Hoje vou tratar de eleições.

Para facilitar minha narrativa, vou dividir em tópicos o que acho que está dando errado e depois explicar os porquês.

- Como escolhemos em quem votar;
Nós escolhemos nossos candidatos com base no que achamos importante, óbvio. Mas para alguns, o importante é ter sua vida, seu emprego ou seus interesses imediatos atendidos pelo governante.

Há quem ache importante que, independente das ações pontuais, o governante siga uma linha ideológica. Há também quem considere importante o caráter do governante acima de tudo, inclusive da possível competência dele.

Não podemos esquecer quem vota no partido independente de quem seja o candidato, assim como os que votam nos candidatos independentemente do partido em que ele está inserido.

Resumindo, a escolha é emocional muito mais que racional. Não temos o costume de analisar as opções friamente e decidir pelo melhor. Normalmente já temos um candidato antes mesmo de iniciadas as campanhas.

- Como os candidatos são escolhidos;
Eles são escolhidos pelos partidos, via de regra, levando em consideração quem tem maior chance de ser eleito. Ou seja, quem conseguir se enquadrar melhor nas regras de como os eleitores escolhem em quem votar, será o escolhido para ser o candidato.

Aí não é determinante ser o mais preparado, ter maior conhecimento técnico, ou mesmo ser o mais honesto. Tudo isso são "qualidades" desejáveis, mas não determinantes nos candidatos.

Veja que quando um político é preterido e não consegue ser aceito como o candidato de uma legenda, muitas vezes ele aposta em si e deixa o partido em busca de outro que o aceite como candidato. Ou seja, o compromisso dele com a ideologia do partido acaba quando o interesse particular dele inicia.

Mas também acontece o contrário. O partido não escolhe com base nas indicações de melhor candidato, mas com base na possibilidade de ter o sujeito eleito. Por conta disso, passa por cima de questões morais, éticas e, muitas vezes, até legais.

- Como são feitas as campanhas
Logo, chegamos a como as campanhas constroem seus candidatos. E a regra é muito clara: criar uma imagem para o candidato que se encaixe nos anseios de quem vai votar. Veja, não é achar um candidato que se encaixe no perfil desejado. É construir uma imagem que bata como esse anseio.

Isso é uma tragédia. As eleições são nada mais que o uso do marketing (na sua pior definição) para a venda de um candidato. As estratégias são as mesmas que as de qualquer produto. Com a diferença de que quase todos os candidatos são "genéricos" e estão prontos a terem sua imagem moldada para vencer.

Tipo, a publicidade e o marketing não costumam dizer que sabão glicerinado é bom para usar como comida de bebê. Ou seja, o marketing, nesse caso, tem limites. Nas eleições não! O candidato mais corrupto pode ser "vendido" como ficha limpa, o burguês vira trabalhador e os libertários viram protecionistas e vice versa. Vale tudo no jogo das eleições.

E para que ninguém (ou ao menos a massa) questione isso, vemos uma série de eventos que fomentam essa adoração emocional, em que os candidatos viram heróis, as legendas viram times e os eleitores viram torcedores/fãs que jamais aceitam os defeitos do seu lado e lutam ferozmente contra o time e seus seguidores adversários.

Se vê muito mais imagens belas, propostas sensacionais, um candidato tentando desfazer a boa imagem do outro, musiquinhas chicletes e muito auto elogio. Ou seja, "compre batom, compre batom..."

Enquanto os candidatos forem tratados como produtos e os eleitores caírem nessa, viveremos campanhas viciadas já de princípio.

E nesse jogo eleitoral atual só dois perdem: a razão e todo mundo. Só.

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