Meu primeiro Rali Off Road

Marinheiro de primeira viagem, me inscrevi no rali de jipes e caminhonetes, a Mitsubishi Motorsports 2007. Beleza, tudo normal, não fosse o fato de eu não ter um carros destes. Ah, mas até para isso tem solução. A assessora de imprensa e anjo da guarda dos jornalistas aventureiros, Giorgia Torello, me ofereceu um dos carros que acompanha o evento.

Assim, descobri que dividiria o carro com mais três colegas de trabalho. O bom Jamarrí Nogueira, que já tinha experiência em ralis e se tornou o nosso navegador, e o também estreante Ricardo Araújo que, por ter sido fotógrafo, cinegrafista e narrador do vídeo de nossa aventura, foi fundamental para manter o nosso passeio para sempre vivo.

A brincadeira começou com uma aula de navegação na noite anterior ao rali que me tirou o sono. Entre as explicações técnicas passadas pelo diretor da prova, Lourival Roudan, responsável pelas pistas que pegaríamos na manhã seguinte, ouvíamos piadas do tipo: “não esquece de olhar para frente que as vezes pode aparecer um precipício...”, ou “se o navegador ficar muito tempo calado, olha para ver se ele ainda está vivo”.

Por conta destas piadinhas fiquei imaginando por onde este camarada já teria passado. Descobri. Além das dezenas de corridas nacionais, Roudan já correu por quatro vezes na Paris – Dacar, uma que atravessa o deserto e vez por outra morre um. Daí vêm as histórias e “dicas” dele.

Outra preocupação me veio à mente. Nunca havia dirigido nem muito menos pilotado um carro com tração nas quatro rodas. Aliás, desconhecia os procedimentos e etiqueta para uso de veículos deste porte. Mas como que no filme Matrix, achei todos os conhecimentos necessários na Internet. Em minutos estava pronto.

Manhã da prova. Na mochila, além de água e biscoitos, canivete, apito e aulas de sobrevivência no mato. Eu sei que parece exagero, mas eu prefiro não dar mole. A adrenalina quando liguei o carro para partir era tão grande que quase me decepcionei quando vi a velocidade média da prova: 30 km/h.

Na fila de largada, eu confirmei a impressão tida na noite anterior: muitos competidores são tão amadores quanto eu, mas com a diferença de que eles são donos dos carros que estão usando. Essa parecia uma coisa boa para eles e ruim para mim, mas, depois do segundo grande solavanco eu vi que era o contrário.

Por se tratar de uma corrida de regularidade, vence quem tiver o tempo mais constante e mais próximo das especificações da planilha do navegador. Então, não adianta correr mais que os concorrentes, é preciso manter a velocidade constante e conseguir passar nos postos de conferência no tempo certo.

Mas voltando ao solavanco, depois do segundo dei graças por não estar no meu pobre carrinho e meus colegas concordaram. Ricardo disse que passaria a noite sem dormir se fosse seu carro e Jamarrí disse que pararia o carro e iria chorar na beira da estrada. Nesta consternação, nos perdemos. Não sei se passamos batidos por alguma referência ou se eu simplesmente desobedeci às ordens do navegador.

Foi ruim, ficamos desorientados, perdemos a trilha, perdemos as referências de nossa planilha, nos atrasamos em oito minutos. Foi bom, eu não sabia ainda se a tal Pajero TR4 conseguia passar dos 30 km/h, não na prática. Descobri. E mais, descobri que não só ela passava disso como eu sabia pilotá-la em velocidade maior. Ótimo, porque precisávamos tirar o atraso.

Ainda precisei escorregar um pouco numa curva para dominar a troca de tração nas rodas e tornar a direção maias segura. Demos nosso primeiro banho de lama no carro ainda com janelas abertas. Ricardo reclamou de terra no rosto, mas seguimos em frente. A questão é que atrasados, nossa corrida ganhou mais emoção, era uma festa.

Num intervalo, enfim tiramos o atraso e, melhor, descobrimos que muitos se perderam, inclusive alguns nos seguindo. Estávamos bem. Bem contentes pelo menos. Paramos e bebemos água, ouvimos navegadores reclamando com seus pilotos e vice versa. Uma das discussões foi mais legal, e começou por causa de um comentário meu:

- O carro de vocês está tão limpinho. Perguntei a um grupo que chegava todo atrasado.
- Esse cara está com pena do carro, reclamou o navegador do grupo apontando para o piloto e dono do carro que só balançou a cabeça resignado.

Ofereci o carro da minha equipe para que eles tirassem fotos, mas eles não gostaram da idéia. Resmungaram algo e saíram.

Na hora de voltar à corrida, recebemos a visita e o apoio do experiente piloto de rali em duas rodas, Silvano Soares, que veio nos dar uma força. Já estávamos todos aquecidos, claro que só no sentido de estar prontos para a relargada, porque o carro ficou sempre no ar-condicionado depois do banho de lama no nosso foto-cinegrafista.

Lembrei das trilhas que já fiz de bicicleta e de trekking. Esforço físico, suor, canseira, sede, nada disso aconteceu nas três horas de prova que nos levou de João Pessoa a Praia Bela, no Litoral Sul da Paraíba. É outro tipo de emoção. Muito boa, é verdade, mas muito cara, uma vez que é preciso ter um Mitsubishi para participar.

Voltamos à pista e desta vez com ajuda profissional. Agora éramos quatro. Mas tínhamos um problema. Todos, inclusive o piloto que vos escreve, davam pitacos e sugestões ao navegador que ficou louco e se perdeu. Aliás, eu me perdi. Chegou uma hora em que todos falávamos ao mesmo tempo e eu seguia em frente.

O resultado é que nos perdemos de novo. Desta vez num loteamento com mato alto. Em algumas horas eu achava que estávamos certos aí passava um nativo e nos dizia que nunca tinha visto um carro daqueles. Ou seja, caminho errado, porque devíamos ser o centésimo carro daqueles na fila de saída.

Rodamos, rodamos e rodamos. De repente, vários minutos depois, achamos o caminho de novo e estranhamente estávamos no tempo certo. A partir dali, fizemos todos os tempos certinhos e seguimos até o fim da prova com tranqüilidade. Com certa tristeza e saudade devolvemos o carro à organização do evento.

Não posso falar pelos meus colegas, de quem espero não ter judiado demais, mas para mim foi uma ótima experiência que eu pretendo não deixar se tornar única. A prova é segura. Dividida em categorias para abranger os vários níveis de pilotos, agrada tanto quem vai passear quanto quem vai competir. No meu caso, como acabamos cortando caminho depois de nos perder, fomos desclassificados e ficamos junto com os 200 carros que não estavam na lista dos 10 melhores. Mas ano que vem será diferente!

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