Ah, o fascismo

O autoritarismo nos ronda. Está por perto, à espreita. São tantos os exemplos recentes espalhados pelo mundo. O fascismo, definido por sua ideologia política ultranacionalista e autoritária, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade, pode ser encontrada sem precisar esticar muito a vista.

Guardando essa definição, é fácil ver essas características na forma como polícias e exércitos agem, mas também em movimentos civis como o de 8 de janeiro no Brasil, quando milhares de vândalos destruíram patrimônio público e histórico buscando criar uma situação de convulsão social e, por fim, um golpe.

Mas antes disso, num susto, me dei conta de quão perto vivemos de uma virada política que nos tiraria décadas de avanços políticos, sociais e humanitários. Fiquei estarrecido ao entrar numa loja italiana de souvenirs no largo da Praça da República, em Roma, e me deparar com o busto de Mussolinni disponível em vários tamanhos e preços.

Na mesma praça um senhor de pele escura e feição indiana ostentava, na camisa que vestia, uma águia de asas abertas pousada sobre uma grande suástica nazista. Ele estava sentado, em frente a um “sebo” de livros e revistas enquanto olhava o público passar.

Fiquei intrigado com aquela combinação e mais com como aquele homem veria o mundo. Para mim, a contradição em pessoa. Alguém que veste uma camisa com símbolos que repudiam tudo aquilo que ele próprio representa.

Na Alemanha, alguns dias depois, fui desaconselhado a participar de um ato pacífico em prol das mulheres e crianças palestinas que estavam (e continuam) sendo massacradas em Gaza, na Palestina. De fato, a polícia de Berlim atacou com violência os manifestantes, prendeu, e até ameaçou deportar imigrantes detidos.

Em seguida, o governo alemão resolveu proibir o uso de lenços palestinos assim como estender bandeiras palestinas em público. Por fim, foi proibido também entoar o cântico “Do rio ao mar, Palestina livre, já!”, que defende, como o texto deixa claro, o fim da colonização da Palestina. Uma agressão política contra um povo que pede ajuda.

Igualmente fácil ver a repressão violenta da oposição em ações da polícia contra atos de protesto em Paris, na França, ou mesmo de correligionários sionistas contra as mulheres francesas feministas que marcharam no último Dia Internacional das Mulheres.

O motivo das agressões foram as bandeiras palestinas tremuladas pelo movimento. A mesma França, numa ação política islamofóbica, já havia criminalizado o uso do véu por religiosas que não fossem cristãs.

Muitos franceses reclamam que o islamismo está tomando o país. Ora, não foram eles que colonizaram, depredaram e empobreceram outros países pelo mundo? Não é natural que esses povos queiram viver a riqueza do colonizador?

Muito me choca também, a forma como em pleno Estados Unidos da América, país que se diz vencedor e que tanto se gaba por seus feitos em filmes e estórias sobre a Segunda Guerra Mundial, se veja tantos movimentos neonazistas desfilando pelas avenidas, em grupos de pessoas de várias idades carregando bandeiras com suásticas e enaltecendo o fuhrer alemão.

Mas no fim, todos esses elementos são pequenos perto do que estamos assistindo inertes, diariamente nos últimos 158 dias, em Gaza, onde a população, sobretudo crianças e mulheres, é executada a sangue frio por snipers, bombardeados por drones e tanques ou levados à morte de fome e sede. Tudo isso em nome de um estado que é a própria definição do fascismo colonial e racista: Israel

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