justiça com jota minúsculo

É impressionante, mas é verdade. Está provado, mais que provado: para quem tem dinheiro para pagar os advogados certos, não há lei que o puna. Me desculpe o ministro Joaquim Barbosa, mas a justiça (com jota minúsculo daqui por diante) não funciona para todos.

E mais, ela zomba de todos nós mostrando que sempre há uma forma de protelar, de alongar prazos, de estender discussões e de esculhambar com qualquer tese de igualdade supostamente existente frente aos olhos vendados daquela que deveria ser cega para as diferenças.

Já escrevi sobre isso aqui no blog. Mas não quero, assim como deveria ter sido feito no TSE na última quarta-feira (17), entrar no mérito da questão. Esse já foi feito e custou muito tempo. Muito mesmo. Agora o que resta do caso é a apreciação de embargos que alterariam partes do processo. E o ministro que foi escolhido para julgá-los o fez e os negou.

Mas aí, antes que o caso fosse encerrado, um dos ministros, que tem o caso em suas mãos há 14 meses, fez uma confissão: não leu o processo. E quer ler agora. Imagine você contratando um pedreiro para fazer sua obra. Ele te dá um prazo. No fim do prazo você chega e a obra não foi sequer iniciada. Quando questiona o camarada ele responde cinicamente: não fiz. Você pagou. E caro, ele é o supostamente o melhor dos pedreiros e também o mais caro. Mas ele não fez.

Parabéns ao Versiani que teve coragem, para não dizer cara de pau, para confessar publicamente e na TV que não leu o processo. Parabéns também ao ministro Félix, que tomou as dores de Versiani já sabendo que pediria também vista no processo seguinte na pauta.

Aliás, muito estranho o ministro ter falado em tramóias. Ninguém até então havia levantado nenhum tipo de questionamento ético. Mas se ele já se defendeu por antecipação, deve haver algo. Espero que não.

O presidente Ayres Britto, com sua reverência aos antigos magistrados da Corte acabou abrindo espaço para que a discussão voltasse à baila e que o julgamento dos embargos declaratórios, claramente interpostos como última bóia de salvação, não acontecesse. O governador, que fez lobby pessoalmente em Brasília nos últimos dias, e não fez mais que o esperado, deve estar muito contente. Parabéns para ele também.

Pois afinal, quem vai querer saber de justiça, se nem os ministros das mais altas cortes estão interessados nela? Joaquim, tenho pena de você. Certamente será apontado como o errado, o exagerado, o destemperado. Mas saiba: tô contigo.

Comentários

  1. Parabéns pela lucidez do post!
    O que me revolta é ver a Paraíba se limitar a assistir tudo isso. Que fique claro: não sou maranhista, cassista e, muito menos, cavalcantista. Mas, não me conformo de não haver nesse Estado um único movimento ou pessoas desapaixonadas que contestem a morosidade da justiça neste caso e tomem alguma atitude contra isso - qualquer tipo de manifestação que não venha de políticos, correligionários e simpatizantes da base amarela ou vermelha. Como disse Barbosa, essa delonga no julgamento é um escândalo, uma afronta à sociedade. Mas, ao que parece, nem os ministros das mais altas cortes estão interessados na justiça, nem a maior parte do pobre e dividido povo paraibano.

    Ana Teixeira - daltônica até segunda ordem.

    *Daltonismo: perturbação da percepção visual, caracterizada pela incapacidade de diferenciar todas ou algumas cores.

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  2. Anônimo8:38 AM

    Eu também estou com o Joaquim - e com você, Maurício. E o "destempero" do Ministro me renovou as esperanças: ainda existem homens decentes e que honram as calças que vestem e os salários que lhe pagam.

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