Lá vamos nós de novo

A imprensa, não só a do Brasil, adora encontrar culpados para tudo. Alguns chamam de jornalismo investigativo. Eu chamo de irresponsabilidade. Quantos e quantos casos nós assistimos todos os dias de pessoas que são de fato acusadas, mas são tratadas e apresentadas como culpadas pela imprensa.

O caso da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, é mais um destes casos em que a sede por responsabilizar alguém, a sede de que a justiça seja feita, ou mesmo a promessa de audiência certa, traz danos aos envolvidos. Aqui, o pai da vítima, Alexandre Alves Nardoni, é tratado como principal suspeito, ao menos pela imprensa.

Poderia lembrar de diversos histórias em que os suspeitos foram “culpados” pela opinião pública incentivada pela imprensa e o que teve final trágico. E não preciso ir longe, nem no tempo nem no espaço. Aqui mesmo na Paraíba, no jornal em que trabalho, certa manhã, me deparei com uma capa que tinha a foto de um senhor ao lado de uma menina de oito anos.

A identidade da criança foi preservada com um desfoque em seu rosto, mas o do seu pai estava visível, em destaque, lembro que era a capa do jornal, e tinha uma legenda: “Seu Antônio é acusado de estuprar a própria filha”. Se a capa diz isso, o que mais há para ser lido ou julgado? Para muita gente já se tornou verdade.

Não acreditei no que via. Na matéria dizia que nem ao menos havia uma queixa prestada contra o sujeito. Uma vizinha o tinha acusado e o ministério tinha iniciado uma sondagem sobre o caso. Poderia citar mil motivos diferentes do apresentado pelos quais a vizinha estaria fazendo isso. Mas cabe à polícia e à justiça investigar o caso. Porém, logo chegou um repórter e um fotógrafo e “culparam” o suspeito estampando sua cara na capa do jornal.

Há quem confunda isso com liberdade de expressão. Há quem confunda isso com liberdade de imprensa. Eu tenho medo, porque como em todos os casos onde há o “abuso de liberdade”, em seguida vêm as restrições e sanções. Para mim, o que é feito pela imprensa hoje é um abuso.

Temos, sim, que divulgar e publicar todos as novas informações relevantes, mas temos que ter o bom senso de perceber que as notícias também guiam e direcionam o pensamento coletivo. Afinal, muitos dos veículos de imprensa são formadores de opinião. Nós (jornalistas) estamos aqui para contar as histórias, não para criá-las. É importante lembrar disso a cada texto, a cada matéria.

Comentários

  1. Pois é! Nossos colegas de profissão realmente não aprendem!
    Fica a revista Veja acusando nitidamente o pai, fica o Brito Jr com seus comentários totalmente repetitivos e desnecessários, e isso sem falar nos Datenas da vida...

    ResponderExcluir

Postar um comentário