Era o início da noite de sábado em 31 de março, quando, pelo telefone recebemos na Redação a informação de que um empresário tinha sido assassinado dentro de sua padaria em plena avenida Ruy Carneiro. A princípio era mais um caso de vítimas de motoqueiros assassinos na Capital.
No entanto, menos de uma hora depois, com a morte já noticiada, chega a informação de que morrera naquela situação Francisco Robson Lopes Ferreira, ex-superintendente da Empresa de Limpeza Urbana da Capital no primeiro governo Cícero Lucena (PSDB), de 1997 a 2000, de quem foi tesoureiro da campanha à reeleição para a Prefeitura da Capital.
Engenheiro civil por formação e empresário nato, já havia ocupado outros cargos na administração pública e tentava fazer dar certo seu novo empreendimento, o Armazém dos Sabores, agradável padaria e bomboniere que já iniciara promissora, haja visto sua grande visitação. No entanto, tragicamente, virou local de sua execução.
Consta dos registros policiais que o autor dos disparos chegou ao local, em horário de grande movimentação, na garupa de uma moto e, sem que tirasse o capacete, desceu, entrou na loja e disparou. Um só tiro. Na cabeça. Mas não sem antes pedir que todos se afastassem, pois “o negócio era só com ele”. Sua filha Leila, que trabalhava no local, pôde ver o assassino de seu pai atirar e voltar para a moto onde um piloto já o esperava com o motor ligado.
Lembro de eu mesmo, repórter plantonista, ter informado a um policial que a vítima em questão se tratara de uma “autoridade” e lembro que escutei dele que “por conta disso a noite seria longa”. Concordei. Um fotógrafo amador enviou fotos da confusão na avenida e até do corpo fotografado antes que a polícia chegasse ao local.
Rapidamente a notícia se espalhou. Outros veículos, guiados pelo Portal, contaram suas histórias. Muitos políticos e secretários foram até o local onde o corpo do empresário ainda esperava pelo Departamento de Medicina Legal. Teses foram levantadas. Uns apostavam na de queima de arquivo, “o homem saberia demais em tempos de Confraria”. Outros lembravam dos tormentos vividos em família pela vítima.
Mas as histórias ficariam somente no campo do ‘talvez’ e do ‘quem sabe’, pelo menos se a determinação do Secretário de Segurança, Eitel Santiago, fosse obedecida. Ele ordenou sigilo absoluto sobre o caso. A partir dali, a imprensa ficaria de fora das descobertas. Isso se ela própria não apontasse suspeitos e descobrisse culpados. E foi o que aconteceu.
Dez dias depois do assassinato de Robson, outro sócio do senador Cícero Lucena contou ter sofrido um atentado. Dois homens, um dia antes da execução, teriam sido flagrados tentando invadir o flat do empresário Bisnaldo Dantas que, por sorte escapou e chamou a polícia. O incidente fez a imprensa se mobilizar e tentar achar a conexão entre os casos, mas o Eitel se apressou em negar qualquer ligação.
No décimo primeiro dia depois da morte, o sargento da Polícia Militar da Paraíba Gilmar Rodrigues de Melo foi preso como autor dos disparos que causaram a morte de Robson Ferreira. Ele foi apontado por Francisco das Chagas Araújo de Farias, conhecido como Cariri, que confessou ter participado do atentado junto com outro comparsa, Gilvan da Silva Gomes. O preço da morte teria sido R$ 20 mil e a mandante seria a ex-sogra do empresário, a portuguesa Florinda Moita, conhecida por Flor Moita.
A polícia parecia seguir a pista dos matadores de perto, pois onze dias depois do atentado o secretário afirmava que tinha o caso praticamente solucionado. Mas a imprensa também estava com bom faro. Poucos dias depois de apresentar os envolvidos no Caso Robson, como ficou conhecido, a polícia prendeu o garçom Ivo Araújo de Farias, de 18 anos, acusado de ser um dos homens que teria invadido o Flat de Bisnaldo Dantas. Ele é irmão de Cariri.
Ivo, que foi identificado em imagens do circuito interno de tevê do Flat, é peça fundamental na investigação do Caso Robson e, até então, o único elo entre os demais acusados apontados por ele e que negavam toda a história. Mesmo assim a Secretaria de Segurança nega que haja ligação entre os casos.
Flor Moita (foto), esposa de Antônio Moita e mãe de Ana Cláudia, ex-mulher de Robson, foi proprietária do restaurante Gambrinos, muito badalado na década de 80 e metade da década de 90 em João Pessoa. Segundo contam alguns amigos de Robson, a relação entre a vítima e a ex-sogra era difícil e tinha piorado por causa de brigas na partilha de bens entre as famílias. Robson deixou uma filha de 4 anos com Ana Cláudia.
Elson Pessoa de Carvalho, amigo do empresário, contou que o amigo foi “ludibriado em sua boa fé” na negociação de um apartamento com a sua ex-sogra. Segundo ele, depois disso a relação ficou insustentável e "até para falar com a filha na casa dos avós era complicado", contou.
A empresária, natural de Portugal, morou em João Pessoa, mas voltou a morar em sua terra natal há alguns anos. Costumava vir periodicamente ao Brasil para tratar de negócios e passear. Ela esteve na Paraíba até um dia antes de o atentado acontecer. Chegou a ser intimada pela polícia para prestar depoimento, mas quando tomou conhecimento já estava em solo europeu e se negou a dar qualquer esclarecimento.
Por telefone ainda foi possível falar com seu marido Antônio Moita que se mostrou muito descontente com o que ele chamou de insinuações a respeito de sua esposa e família. Ele reclamou principalmente por ter tido sua família importunada pelos jornalistas portugueses e disse que dias antes de Robson ser assassinado, a própria Florinda recebera ameaças por telefone e teria prestado queixa na Delegacia de Atendimento ao Turista (Deatur).
Antônio Moita acusou José Arlan Rodrigues, que, junto com a mulher Cardiolândia e um cunhado comprou dois apartamentos de Flor Moita. Ele lembrou que José Arlan e a esposa insistiram em colocar Arionaldo Vital da Silva, o Naldinho, como motorista de Florinda enquanto ela esteve em João Pessoa, na semana que antecedeu o crime. Naldinho foi preso acusado de intermediar o acordo entre Flor Moita e o sargento Gilmar.
Depois de muitas acareações em que Cariri acusava o sargento Gilmar de ter atirado no empresário e de o sargento negar sempre. Cariri muda o depoimento e resolve assumir a autoria dos disparos. A partir dali ele passou a contar que atirou a mando do sargento, que nega a nova versão também. Ele revelou também que Florinda Moita teria combinado o crime com Arionaldo Vital e negociado com o sargento Gilmar, suposto responsável pela contratação dos executores do crime.
Por último, foi preso o marceneiro José da Silva Oliveira, de 26 anos, conhecido como Mago Zeu, ele revelou que era o piloto da moto no dia do atentado e que levara o Cariri para fazer o serviço. Ele contou que, junto com outros três acusados, foi até as proximidades do Armazém dos Sabores e passou várias vezes pela frente esperando que o empresário aparecesse. A arma, um revólver calibre 38, segundo ele, pertence ao sargento e foi passada para Cariri.
Assim, na versão oficial do inquérito presidido pelas delegadas Pollyanna Sonally e Fabíola Costa, Flor Moita teria contratado o sargento Gilmar e Gilvan, por intermédio de Naldinho, que chamaram Mago Zeu para ser o piloto e Cariri para ser o executor de Robson Ferreira. Tudo por R$ 20 mil. Cinco dos seis acusados estão presos e respondendo a processos. Mas e a suposta mandante?
No dia 2 de maio o promotor de Justiça Francisco Sarmento ofereceu denúncia ao 1º Tribunal do Júri da Capital contra os seis indiciados no inquérito que apura o assassinato do empresário Robson Ferreira e afirmou não ter a menor dúvida de que a portuguesa Florinda Moita foi a mandante do assassinato.
A Justiça paraibana enviou Carta Rogatória ao Consulado brasileiro em Portugal solicitando à Justiça portuguesa que Florinda Moita fosse interrogada, presa e posteriormente extradita para o Brasil. A resposta chegou no fim da tarde de 4 de setembro com o depoimento da portuguesa.
Segundo o juiz João Alves da Silva (foto), do 1º Tribunal do Júri da Capital, no documento a acusada "simplesmente refutou as acusações que lhe fizeram os réus Arionaldo Vital da Silva e Francisco das Chagas Araújo Farias", alegando não ter qualquer motivo para matar o pai de sua neta. Disse ainda que não havia pendências financeiras entre eles.
Portanto, ao que parece, mais uma via de impunidade foi descoberta. Estrangeiros com passagem de volta para seus países podem cometer crimes no Brasil. A impressão que fica, confirmada em qualquer conversa com juristas ou advogados criminalistas é a de que não há nada mais a fazer a não ser esperar que a justiça estrangeira resolva agir em favor da nossa. No dia 31 de outubro completará sete meses da morte de Robson Ferreira.
Os cinco réus acusados de envolvimento na morte de Robson Ferreira que estão presos já foram pronunciados e mandados a julgamento pelo Tribunal do Júri. O julgamento deles não tem data prevista uma vez que eles podem recorrer da decisão, mas certamente constará da pauta da próxima sessão, em novembro. Quanto a Florinda Moita, acusada de ser a mandante do crime, resta à Justiça paraibana esperar.
A publicação original, no Portal Correio, pode ser conferida no link abaixo.
http://www.portalcorreio.com.br/noticias/matLer.asp?newsId=15554
No entanto, menos de uma hora depois, com a morte já noticiada, chega a informação de que morrera naquela situação Francisco Robson Lopes Ferreira, ex-superintendente da Empresa de Limpeza Urbana da Capital no primeiro governo Cícero Lucena (PSDB), de 1997 a 2000, de quem foi tesoureiro da campanha à reeleição para a Prefeitura da Capital.
Engenheiro civil por formação e empresário nato, já havia ocupado outros cargos na administração pública e tentava fazer dar certo seu novo empreendimento, o Armazém dos Sabores, agradável padaria e bomboniere que já iniciara promissora, haja visto sua grande visitação. No entanto, tragicamente, virou local de sua execução.
Consta dos registros policiais que o autor dos disparos chegou ao local, em horário de grande movimentação, na garupa de uma moto e, sem que tirasse o capacete, desceu, entrou na loja e disparou. Um só tiro. Na cabeça. Mas não sem antes pedir que todos se afastassem, pois “o negócio era só com ele”. Sua filha Leila, que trabalhava no local, pôde ver o assassino de seu pai atirar e voltar para a moto onde um piloto já o esperava com o motor ligado.
Lembro de eu mesmo, repórter plantonista, ter informado a um policial que a vítima em questão se tratara de uma “autoridade” e lembro que escutei dele que “por conta disso a noite seria longa”. Concordei. Um fotógrafo amador enviou fotos da confusão na avenida e até do corpo fotografado antes que a polícia chegasse ao local.
Rapidamente a notícia se espalhou. Outros veículos, guiados pelo Portal, contaram suas histórias. Muitos políticos e secretários foram até o local onde o corpo do empresário ainda esperava pelo Departamento de Medicina Legal. Teses foram levantadas. Uns apostavam na de queima de arquivo, “o homem saberia demais em tempos de Confraria”. Outros lembravam dos tormentos vividos em família pela vítima.
Mas as histórias ficariam somente no campo do ‘talvez’ e do ‘quem sabe’, pelo menos se a determinação do Secretário de Segurança, Eitel Santiago, fosse obedecida. Ele ordenou sigilo absoluto sobre o caso. A partir dali, a imprensa ficaria de fora das descobertas. Isso se ela própria não apontasse suspeitos e descobrisse culpados. E foi o que aconteceu.
Dez dias depois do assassinato de Robson, outro sócio do senador Cícero Lucena contou ter sofrido um atentado. Dois homens, um dia antes da execução, teriam sido flagrados tentando invadir o flat do empresário Bisnaldo Dantas que, por sorte escapou e chamou a polícia. O incidente fez a imprensa se mobilizar e tentar achar a conexão entre os casos, mas o Eitel se apressou em negar qualquer ligação.
No décimo primeiro dia depois da morte, o sargento da Polícia Militar da Paraíba Gilmar Rodrigues de Melo foi preso como autor dos disparos que causaram a morte de Robson Ferreira. Ele foi apontado por Francisco das Chagas Araújo de Farias, conhecido como Cariri, que confessou ter participado do atentado junto com outro comparsa, Gilvan da Silva Gomes. O preço da morte teria sido R$ 20 mil e a mandante seria a ex-sogra do empresário, a portuguesa Florinda Moita, conhecida por Flor Moita.
A polícia parecia seguir a pista dos matadores de perto, pois onze dias depois do atentado o secretário afirmava que tinha o caso praticamente solucionado. Mas a imprensa também estava com bom faro. Poucos dias depois de apresentar os envolvidos no Caso Robson, como ficou conhecido, a polícia prendeu o garçom Ivo Araújo de Farias, de 18 anos, acusado de ser um dos homens que teria invadido o Flat de Bisnaldo Dantas. Ele é irmão de Cariri.
Ivo, que foi identificado em imagens do circuito interno de tevê do Flat, é peça fundamental na investigação do Caso Robson e, até então, o único elo entre os demais acusados apontados por ele e que negavam toda a história. Mesmo assim a Secretaria de Segurança nega que haja ligação entre os casos.
Flor Moita (foto), esposa de Antônio Moita e mãe de Ana Cláudia, ex-mulher de Robson, foi proprietária do restaurante Gambrinos, muito badalado na década de 80 e metade da década de 90 em João Pessoa. Segundo contam alguns amigos de Robson, a relação entre a vítima e a ex-sogra era difícil e tinha piorado por causa de brigas na partilha de bens entre as famílias. Robson deixou uma filha de 4 anos com Ana Cláudia.
Elson Pessoa de Carvalho, amigo do empresário, contou que o amigo foi “ludibriado em sua boa fé” na negociação de um apartamento com a sua ex-sogra. Segundo ele, depois disso a relação ficou insustentável e "até para falar com a filha na casa dos avós era complicado", contou.
A empresária, natural de Portugal, morou em João Pessoa, mas voltou a morar em sua terra natal há alguns anos. Costumava vir periodicamente ao Brasil para tratar de negócios e passear. Ela esteve na Paraíba até um dia antes de o atentado acontecer. Chegou a ser intimada pela polícia para prestar depoimento, mas quando tomou conhecimento já estava em solo europeu e se negou a dar qualquer esclarecimento.
Por telefone ainda foi possível falar com seu marido Antônio Moita que se mostrou muito descontente com o que ele chamou de insinuações a respeito de sua esposa e família. Ele reclamou principalmente por ter tido sua família importunada pelos jornalistas portugueses e disse que dias antes de Robson ser assassinado, a própria Florinda recebera ameaças por telefone e teria prestado queixa na Delegacia de Atendimento ao Turista (Deatur).
Antônio Moita acusou José Arlan Rodrigues, que, junto com a mulher Cardiolândia e um cunhado comprou dois apartamentos de Flor Moita. Ele lembrou que José Arlan e a esposa insistiram em colocar Arionaldo Vital da Silva, o Naldinho, como motorista de Florinda enquanto ela esteve em João Pessoa, na semana que antecedeu o crime. Naldinho foi preso acusado de intermediar o acordo entre Flor Moita e o sargento Gilmar.
Depois de muitas acareações em que Cariri acusava o sargento Gilmar de ter atirado no empresário e de o sargento negar sempre. Cariri muda o depoimento e resolve assumir a autoria dos disparos. A partir dali ele passou a contar que atirou a mando do sargento, que nega a nova versão também. Ele revelou também que Florinda Moita teria combinado o crime com Arionaldo Vital e negociado com o sargento Gilmar, suposto responsável pela contratação dos executores do crime.
Por último, foi preso o marceneiro José da Silva Oliveira, de 26 anos, conhecido como Mago Zeu, ele revelou que era o piloto da moto no dia do atentado e que levara o Cariri para fazer o serviço. Ele contou que, junto com outros três acusados, foi até as proximidades do Armazém dos Sabores e passou várias vezes pela frente esperando que o empresário aparecesse. A arma, um revólver calibre 38, segundo ele, pertence ao sargento e foi passada para Cariri.
Assim, na versão oficial do inquérito presidido pelas delegadas Pollyanna Sonally e Fabíola Costa, Flor Moita teria contratado o sargento Gilmar e Gilvan, por intermédio de Naldinho, que chamaram Mago Zeu para ser o piloto e Cariri para ser o executor de Robson Ferreira. Tudo por R$ 20 mil. Cinco dos seis acusados estão presos e respondendo a processos. Mas e a suposta mandante?
No dia 2 de maio o promotor de Justiça Francisco Sarmento ofereceu denúncia ao 1º Tribunal do Júri da Capital contra os seis indiciados no inquérito que apura o assassinato do empresário Robson Ferreira e afirmou não ter a menor dúvida de que a portuguesa Florinda Moita foi a mandante do assassinato.
A Justiça paraibana enviou Carta Rogatória ao Consulado brasileiro em Portugal solicitando à Justiça portuguesa que Florinda Moita fosse interrogada, presa e posteriormente extradita para o Brasil. A resposta chegou no fim da tarde de 4 de setembro com o depoimento da portuguesa.
Segundo o juiz João Alves da Silva (foto), do 1º Tribunal do Júri da Capital, no documento a acusada "simplesmente refutou as acusações que lhe fizeram os réus Arionaldo Vital da Silva e Francisco das Chagas Araújo Farias", alegando não ter qualquer motivo para matar o pai de sua neta. Disse ainda que não havia pendências financeiras entre eles.
Portanto, ao que parece, mais uma via de impunidade foi descoberta. Estrangeiros com passagem de volta para seus países podem cometer crimes no Brasil. A impressão que fica, confirmada em qualquer conversa com juristas ou advogados criminalistas é a de que não há nada mais a fazer a não ser esperar que a justiça estrangeira resolva agir em favor da nossa. No dia 31 de outubro completará sete meses da morte de Robson Ferreira.
Os cinco réus acusados de envolvimento na morte de Robson Ferreira que estão presos já foram pronunciados e mandados a julgamento pelo Tribunal do Júri. O julgamento deles não tem data prevista uma vez que eles podem recorrer da decisão, mas certamente constará da pauta da próxima sessão, em novembro. Quanto a Florinda Moita, acusada de ser a mandante do crime, resta à Justiça paraibana esperar.
A publicação original, no Portal Correio, pode ser conferida no link abaixo.
http://www.portalcorreio.com.br/noticias/matLer.asp?newsId=15554
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