Ética

A cada dia eu sei mais, ganho mais fontes, e conheço mais histórias. No entanto, cada dia posso contar menos, tenho menos como construir minhas histórias. Um hora não posso falar por respeito às fontes. Outras por respeito às vítimas ou aos envolvidos. Será que isso é o que chamam ética?

Ta, eu sei que eu não fiz juramento nenhum como os que os médicos fazem ao se formar, mas mesmo assim eu aprendi que se deve respeitar a sua fonte. Por isso sou contra gravações escondidas que incriminam quem conta. Acho que as histórias devem ser contadas mesmo que por fontes que queiram se manter no anonimato.

Mas algumas histórias são contadas de maneira não oficial, “em off” como chamamos, apenas para informar-nos, mas de que serve uma história que não se pode contar? De que serve saber das mais escabrosas informações se você só soube porque prometeu silêncio?

Cada uma dessas histórias marcam para sempre o “contador de histórias” que se cala. Chega uma hora que não se tem mais certeza se é bom ou ruim saber tais histórias. Às vezes penso: “prefiro não saber”, mas não consigo. A curiosidade é maior. Aliás, acho que se não fosse essa fome por “saber das coisas” eu já teria mudado de profissão.

Ética. Não sei se o meu compromisso deve ser maior com minhas fontes, com os meus entrevistados ou se com meus leitores. Afinal, acho que, mais que a fonte do meu salário, meu trabalho tem uma função social.

Sempre que alguém vem me pedir esmola ou me cobrar participação em programas de ajuda a doentes ou mendigos, digo que já colaboro dando notoriedade ao problema deles e cobrando das autoridades que tomem providências.

Se este é meu papel na sociedade que vivo, que direito eu tenho de esconder histórias ou deixar de contá-las por compromisso com as fontes? E, por outro lado, como vou ter histórias para contar sem fontes? Sim, porque logo que eu trair a confiança das fontes, certamente as perderei para sempre.

Conheça o Código de Ética do Jornalismo clicando aqui.

Comentários