Polícia paraibana não consegue resolver casos graves

A Paraíba passa por um momento difícil em relação à segurança. O grande número de crimes sem solução acaba por gerar mais violência como linchamentos e grupos de extermínio atuando em todo o Estado. Do mês de junho até hoje mais 72 dos crimes noticiados pelo Portal Correio não tiveram solução ou estão parados. Destes, pelo menos 15 foram assassinatos cometidos por motoqueiros que abordavam as vítimas e as executavam.

Os motoqueiros agem sempre da mesma forma e contra vítimas com perfis semelhantes. São sempre dois atiradores, o piloto e o garupa, que usam capacetes e moto sem placas ou com roubadas. Todas as vítimas têm passagem pela polícia e são, muitas vezes, ex-presidiários ou albergados. A forma de agir dos motoqueiros é sempre igual: eles localizam a vítima e a fuzilam com vários tiros. Ações típicas de grupos de extermínio, segundo o deputado Luiz Couto, que integra a CPI do Extermínio instituída pela Câmara Federal.

Couto afirma que este ano a CPI ainda não fez o levantamento de quantos crimes com características de grupo de extermínio foram cometidos, mas ele já disse poder dizer que os números estão aumentando. O Deputado contou ainda que há policias que já foram presos por crimes como estes mas deixam os quartéis em fins de semana e cometem novos assassinatos, e isso indica, segundo ele, conivência por parte da corporação.

O deputado federal, que também é padre, disse ainda que diversos grupos agem no Estado. Por conta de afirmações como esta, ele anda escoltado dia e noite por policiais federais. Segundo o assessor de imprensa da Polícia Federal, Deusimar Wanderlei Cavalcanti, apenas Luiz Couto faz uso deste tipo de escolta em toda a Paraíba. “O caso dele é o requer mais cuidado”, contou.

Apesar de a Secretaria de Segurança do Estado não divulgar dados sobre estes casos de violência, nos últimos três meses também foram muitos os casos de seqüestro relâmpago e de assaltos a casas, principalmente no interior do Estado. Junto com os números de crimes cometidos, sobe também o número de linchamentos. Em casos como o da cidade de Picuí (leia aqui), onde a delegacia foi destruída e o preso apedrejado e depois queimado, até os carros e casas próximas ao local do linchamento ficaram destruídos.

Nos últimos dois meses, pelo menos cinco pessoas foram linchadas pela população da Paraíba. Segundo o sociólogo e professor da Universidade Federal da Paraíba, Adriano de Leon, “as pessoas vivem numa coesão social que é mantida pela lei. Quando a lei não consegue dar conta, as pessoas passam a se agrupar e tomar decisões e ações nas próprias mãos, em busca dessa coesão”.

Para o sociólogo, quando a polícia se mostra inoperante as pessoas buscam soluções. “Algumas formam ONGs de ajuda, outros montam grupos de extermínio. A sociedade esquece o conceito de justiça e passa a adotar o de ‘limpeza urbana’” , explicou lembrando que muitas vezes os linchados eram suspeitos de crimes pelos quais nem haviam sido julgados.

Os entrevistados têm opinião semelhante quanto ao que tange os motivos que levam as pessoas a quererem fazer justiça com as próprias mãos, quer seja por linchamento, por extermínio ou por listas da morte. Todos atribuem à falta de controle da polícia e à morosidade da justiça em resolver os casos mais graves.

Listas da Morte – Mantendo os três últimos meses como base de informações, o Portal Correio deu destaque a duas listas da morte: Uma de supostos policiais que estariam fazendo uma “limpeza” nas ruas da Grande João Pessoa matando foragidos da justiça. Os corpos eram deixados na estrada da praia de Jacarapé, trecho que leva ao Litoral Sul.

A outra lista surgiu no Presídio Sílvio Porto, na capital, e tinha desde nomes de presos que “deviam morrer” até de administradores de presídios que supostamente maltratavam os internos. Esta lista foi denunciada por um preso que hoje faz parte de um programa de proteção a testemunhas.

Segundo ele, teria vindo do presídio a ordem para assassinar o diretor da Penitenciária de Segurança Máxima, Adamar Lívio de Albuquerque. O homem acusado de ser o responsável pela lista é um preso conhecido como “Canindé” (como se pode ler clicando aqui).
Clique aqui e veja tabela com os crimes sem solução noticiados pelo Portal Correio nos últimos três meses.

Publicada em 6 de setembro de 2006 no Portal Correio (www.portalcorreio.com.br) e no dia 7 de setembro de 2006 no jornal impresso Correio da Paraíba, no caderno de Cidades.

Comentários

  1. Ah tristeza... Algumas vezes dá vontade de fechar os olhos, tapar os ouvidos e, simplemente, sumir...

    Xêro em tu

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