Ainda Gaza

Imagem: Dawoud Abu Alkas/REUTERS

Eu gostaria de poder mudar de tema. Não falar dos quase sete meses de terror e genocídio em Gaza, na Palestina. Mas a cada semana, a cada dia, na verdade, a situação se torna, incrivelmente, ainda pior. E, para além disso, o que me obriga a abordar esse massacre reiteradamente é justamente o vácuo proposital deixado pela mídia ocidental e, não diferente, da brasileira.

O fato de a grande mídia televisiva brasileira não abordar o assunto com a mesma frequência com que os grandes fatos ou tragédias orientais se apresentam já é um problema em si. Mas a descontextualização e a cobertura maliciosa tornam tudo pior.

Digo maliciosa porque muitas vezes ignora fatos e deixa de fazer contextualizações que seriam vexatórias ou trariam constrangimento ao estado opressor e colonizador, que, infelizmente, é dono da narrativa no Norte Global. Perguntas que normalmente seriam feitas em outros contextos, ponderações óbvias tidas e até conclusões inevitáveis seriam expostas.

Essa semana, a emissora de TV Al Jazeera, que já teve jornalistas assassinados pelo estado sionista, um prédio bombardeado e demolido em Gaza, e seu corpo editorial censurado e atacado, noticiou (apesar de tudo isso) que equipes da Defesa Civil de Gaza descobriram uma vala no Complexo Médico Nasser, no último sábado, com mais de 180 corpos.

Esse complexo fica na cidade de Khan Yunis, no sul de Gaza, e era o local onde o exército colonizador de Israel realizou incursões por alguns dias. Na vala, descoberta depois da saída das tropas, foram achados os corpos de homens jovens, crianças e idosas. Alguns nus, sugerindo que tenham sido torturados, outros com pés e braços presos, o que indica que foram executados.

No início do mês, quase 400 corpos já haviam sido recuperados perto do maior hospital de Gaza, o Al-Shifa, depois que militares israelenses deixaram o local. Uma missão liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) localizada nas proximidades do hospital chegou a ajudar na operação.

Como não lembrar das imagens disponíveis no museu do holocausto, na Alemanha, ou das imagens de Auschwitz, na Polônia? Centenas de corpos nus, de uma magreza cadavérica, empilhados num grande buraco uns por cima dos outros e, fora da vala, militares nazistas executando judeus rendidos já no fim da Segunda Guerra Mundial.

Depois da divulgação das informações sobre a vala no hospital palestino e das terríveis conclusões a que podemos chegar, o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu prometeu providências: proibir a Al Jazeera de ser exibida no país.

O fim da divulgação das informações do genocídio em Gaza é tudo que os sionistas mais desejam. Os dados são, realmente, alarmantes. Lá, em média, uma criança é morta a cada dez minutos, segundo a assessoria de imprensa da Organização das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).

A entidade informou ainda, no último domingo, que a cada dia, são assassinadas 67 mulheres, dentre as quais 37 mães, conforme dados da ONU. Já se contabilizam cerca de 18 mil órfãos que perderam tudo. Os desaparecidos são dezenas de milhares. Infelizmente muitas valas ainda devem ser descobertas nos próximos dias. O genocídio de palestinos não para.

*Artigo originalmente publicado no Jornal A União, em 24 de abril de 2024



Comentários