"Vou te arrastar na tapa até a viatura"

Poucas vezes me senti tão agredido quanto hoje. Quando achei que estava indo relaxar e almoçar, na saída da empresa em que trabalho me deparei com uma cena inusitada: uma candidata à prefeitura de João Pessoa trocava empurrões com um soldado da tropa de choque. A violência me fez parar para saber do que se tratava.

Quando cheguei ao local da peleja havia três soldados da tropa de choque da Polícia Militar tentando conter a candidata Lourdes Sarmento que, indignada, tentava entrar a força na TV para participar de um debate entre os candidatos. A empresa, de fato, havia deixado a ordem que proibia a entrada da candidata, que no dia anterior já tinha prometido tentar entrar.

Não quero discutir esta questão de ela poder ou não entrar, de quem tem razão ou não do que diz respeito à participação de candidatos sem representação na Câmara. Quero, sim, chamar a atenção para o fato de que os policiais forma extremamente desrespeitosos e chegaram, inclusive, a ameaçar a candidata.

Não foi o fato de terem se empurrado nem se estapeado quando a candidata tentou forçar sua entrada. Me refiro ao diálogo que aconteceu depois que os ânimos pareciam ter se acalmado. Enquanto Lourdes chorava, o PM continuou provocando. Ele dizia que poderia prendê-la por desacato e que ela era uma despreparada. Ela então retrucou a provocação dizendo que gostaria que ele a prendesse.

Mas o mais grave, e aí eu me senti afrontado e agredido. O policial disse que se ela fosse um homem ele a arrastaria pelos cabelos e a levaria “na tapa” até o camburão na esquina. Ela ainda disse mais algum desaforo ao despreparado policial, mas depois eu não consegui mais me concentrar no que estava sendo dito.

Eu fiquei tão abismado com as palavras do policial que eu não consegui nem falar nada. Na hora eu entrei no local onde os dois estavam e fiquei acompanhando o desenrolar da situação. Agora, analisando a situação, é capaz que Lourdes tenha pensado que eu estava lá para, também, reprimi-la. Mas na minha cabeça, só o que passava era que eu não iria permitir que aquele camarada batesse na candidata na minha frente.

Que fique claro que eu não concordo com muitas das coisas ou dos discursos de Lourdes Sarmento enquanto candidata. Não sou partidário dela e nem quero, como já disse, entrar na confusão a respeito da participação ou não dela nos debates ou entrevistas. Meu negócio é com relação à ameaça sofrida por ela, que provocou sim o policial, mas que ele tem a obrigação de ter o controle e as técnicas para “manter a ordem” sem ameaças ou violência.

Fiquei imaginando que se este cabra, porque ele se portou como um cabra, ameaça espancar uma candidata a prefeitura de uma capital, o que ele fará com um popular, ou mesmo com um jornalista? Este tipo de coisa não pode acontecer. Pessoas como esta não podem andar armadas por aí. Se não têm preparo não podem exercer funções que lidem com o povo.

A candidata deveria prestar queixa contra o sargento que a ameaçou. Porque os nossos policiais não podem achar que têm o poder de espancar ou ameaçar e sair impunes. Mesmo quando eles dizem, e este disse, que ninguém testemunharia contra a polícia. Aliás, quando fui perguntar os nomes dos soldados, eles fugiram da pergunta. Quando disse que o sargento havia se excedido ao ameaçar a candidata, o soldado disse com cara de “não me comprometa” que não tinha ouvido nada.

Pois fica aqui registrada a minha discordância e o recado de que somente denunciando e indo contra ações como esta é que vamos conseguir melhorar a nossa polícia. E, para os incrédulos, se não vamos conseguir melhorá-la, pelo menos vamos impedir que ela piore. Acho que isso é função de todos. O ameaçado ou agredido podia ser você ou eu.

Comentários

  1. É por essas e outras que cada dia que passa tenho mais orgulho de ser casada com você.
    Que bom que todos os homens fossem assim.

    Te amo muito!

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  2. Anônimo6:02 PM

    Realmente mostrou o total despreparo da polícia e infelizmente é maior do que o retratado, espero que o filme Tropa de Elite não seja a idolatria de um policial desse...

    Abração!! ;)

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  3. E é isso que chamamos de democracia. Como sempre no Brasil, quem faz parte da margem, no caso à margem dos grandes partidos, é tratado com esse tipo de desrepeito e violação dos direitos políticos. Podemos dizer qualquer coisa de Lourdes Sarmento, menos que seja despreparada. E viva a ditadura da democracia.

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  4. Eu pensei que isso iria passar batido pela mídia. Quando cheguei na empresa ontem o tumulto já havia acabado. Queria muito ter fotografado. Uma pena.

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  5. Sempre dou uma passada no seu blog e nunca comento. Mas, dessa vez tenho algo a dizer sobre:
    "Fiquei imaginando que se este cabra ameaça espancar uma candidata a prefeitura de uma capital, o que ele fará com um popular, ou mesmo com um jornalista?"
    Essa frase me chamou a atenção porque fui vítima há algumas semanas da polícia de Sapé.
    Fui à cidade colher depoimentos para um documentário sobre Trabalho Infantil e, quando estávamos saindo, o cinegrafista resolveu continuar com a câmera em punho p/ captar imagens da cidade no carro mesmo. E, então, quando menos esperávamos, fomos parados por uma viatura com três policiais, que nos mandaram sair, apontando armas p/ as nossas cabeças. Enquanto um público curioso acompanhava a cena, eles gritaram conosco, nos revistaram de forma truculenta, perguntando se tínhamos autorização (pasmem!) para filmar na rua (????)...
    Passamos alguns minutos explicando - questionar o abuso daquela ação seria pedir p/ apanhar ali mesmo - até que nos 'liberaram', dizendo que aquele era um 'procedimento de rotina' - especialmente em época de campanha eleitoral, imagino.
    Pensamos em prestar queixa, mas a quem? À polícia de lá?
    Foi, até o presente, minha pior experiência, enquanto jornalista.

    Ana Teixeira

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