Uma enorme insurreição popular de palestinos e apoiadores emergiu dos becos e ruas de Jerusalém, capital histórica da Palestina, desde o dia 22 de abril, quando um grupo de cerca de 300 colonos israelenses deu início a uma onda de ataques contra os palestinos. Mais de 100 palestinos foram feridos e quase 50 pessoas detidas na ocasião, e, desde então, revoltas têm eclodido todas as noites contra a violência colonial de Israel.
Na noite do dia 22/04, o grupo de colonos, organizado pelo movimento de extrema-direita Lavaha, marchou para a região da Cidade Velha de Jerusalém Oriental onde fica a Mesquita al-Aqsa, entoando "Hoje vamos queimar árabes" e incitando a violência contra palestinos e árabes israelenses. Vídeos publicados na internet mostram centenas de pessoas marchando por uma das principais vias de Jerusalém, a rua Jaffa, em direção ao Portão de Damasco, que dá acesso à Cidade Velha, gritando repetidamente: "Morte aos árabes".
O fato ocorreu em pleno período do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, para os quais a Mesquita de al-Aqsa é considerada o terceiro lugar mais sagrado da religião.
Paralelamente, centenas de palestinos e pessoas solidárias a eles se reuniram perto do Portão de Damasco para protestar contra a manifestação de extrema-direita e contra o fechamento pela polícia da praça em frente ao portão, lugar popular de encontro de palestinos, principalmente em meio ao Ramadã.
Armados apenas de garrafas de vidro e pedras e erguendo barricadas a partir de postes e outros objetos, os manifestantes palestinos repeliram bravamente os ataques dos colonos e da polícia, que procurou reprimir com uma violência desproporcional os árabes, em vez dos colonos judeus que haviam iniciado o confronto. As forças da repressão utilizaram granadas de atordoamento, balas de borracha e canhões de água para tentar dispersar a multidão.
O Crescente Vermelho Palestino afirmou que, dos 105 palestinos que ficaram feridos, 22 precisaram de tratamento hospitalar. Há múltiplos relatos de palestinos que foram espancados pela polícia israelense ou por colonos, com a conivência dela.
De acordo com o canal 7 da TV israelense, no dia anterior o vice-prefeito de Jerusalém, Aryeh King, havia dito que atirar nos manifestantes palestinos "é a única maneira de acabar com o fenômeno dos protestos noturnos", e orientado a polícia colonial a executar os manifestantes palestinos que saíssem às ruas da cidade à noite. King é conhecido por apoiar a colonização e estabelecimento assentamentos israelenses em Jerusalém Oriental, e pela expulsão sistemática das famílias palestinas.
A marcha organizada pela extrema-direita de Israel sucede uma semana de ataques violentos de direcionadas contra árabes israelenses e palestinos residentes no centro de Jerusalém após circulação de um suposto vídeo de um grupo de colonos sendo agredidos e expulsos por palestinos na área da Cidade Velha de Jerusalém. Vários jornalistas árabes, como Suleiman Maswadeh e Yossi Eli, foram atacados pelos colonos; propriedades de palestinos foram arbitrariamente alvejadas, e em um dado dia um grupo de colonos entoando slogans racistas atacaram um motorista árabe que parou para protestar contra eles.
Desde o início do Ramadã, no dia 13/04, os palestinos de Jerusalém têm se revoltado diuturnamente contra as forças da potência ocupante, Israel. O principal motivo é que a polícia tem bloqueado com barricadas os Portões de Damasco e de Nablus, impedindo os palestinos de se reunirem para aproveitar a noite após o jejum diurno, tradição muçulmana que compõe esse mês sagrado. Além disso, vários protestos têm sido organizados contra o despejo de famílias árabes dos bairros que continuam a ser majoritariamente palestinos, apesar da política colonial de substituição da população por israelenses judeus e estabelecimento de assentamentos.
Entrevistado pelo monopólio de imprensa AFP, o senhor palestino Samir Gheith, de 66 anos, morador de Jerusalém, disse que as pessoas estavam ansiosas para se reunir no Portão de Damasco durante o Ramadã, depois que ele havia sido fechado no ano passado devido às restrições do coronavírus. Sobre as ações tomadas por Israel, ele disse: "Acho que eles não querem que a gente seja feliz".
PROTESTOS INCENDEIAM TODA A PALESTINA
Nos dias seguintes, os protestos se seguiram e se espalharam por toda a Palestina. No dia 24/04, mais de mil pessoas se reuniram perto da residência oficial do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Jerusalém para protestar contra a violência colonial e contra a permanência do político, durante o seu julgamento por corrupção que ocorre agora.
No dia 25/04, após três noites consecutivas de protestos, a polícia israelense foi obrigada a permitir que os palestinos se reunissem na praça em frente ao Portão de Damasco, e centenas de pessoas foram comemorar no local, onde destruíram as barricadas impostas por Israel. No entanto, segundo o monopólio de imprensa AFP, a polícia invadiu a praça e começou a atacar os manifestantes, após bandeiras palestinas serem agitadas em celebração, e vários jovens palestinos foram levados detidos pela polícia.
No mesmo dia, horas antes, centenas de policiais cercaram a Cidade Velha de Jerusalém com equipamento antimotim e atacaram as massas palestinas, que responderam novamente com combatividade, atirando pedras e garrafas.
Na Faixa de Gaza, manifestantes palestinos dispararam pelo menos 10 foguetes contra Israel no dias dias 23 e 24/04, e centenas de pessoas tomaram as ruas em atos de solidariedade aos palestinos em Jerusalém. O autodenominado Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que governa Gaza e é o principal expoente do campo da Resistência Nacional palestina, organizou dezenas de protestos em todo o território expressando solidariedade com os fiéis muçulmanos em Jerusalém.
Dirigindo-se aos manifestantes, o líder do Hamas Mahmoud Zahar condenou a decisão de alguns Estados árabes de normalizar suas relações com Israel no ano passado, e atacou a Autoridade Palestina na Cisjordânia ocupada por continuar a coordenar a segurança do território sob tutela de Israel. “Depois de uma longa série de protestos e manifestações, chegamos à conclusão de que sem armas não podemos libertar nossa terra, proteger nossos locais sagrados, trazer de volta nosso povo às suas terras ou manter nossa dignidade”, disse ele.
Houve múltiplos protestos em apoio ao palestinos de Jerusalém também por também por toda a Cisjordânia ocupada, principalmente ao longo da fronteira criada pelo colonialismo-sionista que divide a Palestina em territórios não contíguos. Na grande cidade de Ramallah, por exemplo, os manifestantes ergueram barricadas com pneus em chamas no posto de controle de Israel que segrega Ramallah de Jerusalém.
Texto original em A Nova Democracia
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