O jornalismo está morrendo

O jornalismo parece estar acabando. E não é pelo motivo que se previa. Não é pela participação cada vez maior do público na produção da notícia. Não tem a ver com a mudança dos veículos ou com o aumento do preço do papel. Não tem a ver com a TV tomar o lugar do rádio, ou da Internet tomar o lugar da TV. Tem a ver com o motivo de se fazer jornalismo.

A função social do jornalismo é quase ignorada. Se faz notícia pela notícia. Sem motivo, sem razão, sem objetivo. Se diz que é pela audiência, mas nem isso é.

Vivemos um momento em que muitos jornalistas abusam da confiança conseguida com suas fontes. Vivemos um momento em que os poderosos ou simplesmente brutos de plantão agridem e descumprem os direitos do cidadão na frente dos jornalistas por saber que eles não dirão nada (!).

Foi-se o tempo em que dar informação errada era vergonhoso, era humilhante. Hoje, não há compromisso com a verdade. Hoje, não há compromisso com os leitores/ouvintes/telespectadores. Hoje as informações são apenas replicadas, sem checagem, sem apuração, sem garantias. Hoje há uma legião de jornalistas que sequer leu o Código de Ética da Profissão.

Já tive raiva de Gilmar Mendes por defender a não obrigatoriedade do diploma de jornalismo para contrações em redes de comunicação. Hoje eu vejo que a culpa é dos jornalistas, que não se organizam para garantir o bom funcionamento da comunicação e acabam à mercê de tribunais e ações de associações empresariais. A culpa é nossa.

A culpa é nossa quando aceitamos que pessoas ignorantes ocupem o lugar de jornalistas. É nossa culpa quando permitimos e somos indulgentes quando temos nosso conteúdo intelectual roubado ou usado inescrupulosamente. A culpa é nossa quando é preciso que o Ministério Público nos diga que estamos fazendo jornalismo do jeito errado.

Nosso sindicato e associação são um termômetro do que somos enquanto categoria hoje. Lutamos por salários melhores e só. O reflexo disso é que temos comunicadores que ganham bem, mas que não têm conteúdo, nem se importam com ele. E quando são questionados por isso, nossas entidades agem como mães superprotetoras que nos passam a mão na cabeça e repudiam quem está criticando.

Enfim, nós, os jornalistas, se não estamos matando o jornalismo, estamos deixando que o matem.

Comentários

  1. Anônimo8:55 AM

    E o pior é que esse problema não é recente. Há anos vemos a notícia pela notícia. Foi se o tempo do Jornalismo contestador e instigador. Essas características ficam retidas nas universidades, porque na "vida real" os objetivos são bem diferentes

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  2. Anônimo10:32 PM

    Mauricio, a área da música passa por esse mesmo dilema, problema... Vejo que esse não um problema pontual de uma área ou ramo profissional. A internet mudou muito as formas de interação social e cultural e a velocidade com que as informações sao trocadas banaliza o conteúdo. O jornalismo não perdeu sua função, assim como a música não deixou de lado sua essência. Os conceitos parecem que não são mais suficientes para delitarmos nossas profissões.

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